domingo, 20 de junho de 2021

O Câncer e sua evolução

O câncer levanta uma infinidade de questões para os biólogos, muitas delas ainda sem resposta. Como podemos explicar as origens da doença? Por que é tão difícil de curar? Por que a vulnerabilidade ao câncer persiste na maioria dos organismos multicelulares?

O câncer afeta todo o reino animal multicelular. A razão é que se trata de uma doença ancestral relacionada ao aparecimento de metazoários (animais compostos por várias células, diferentemente dos protozoários que são formados por uma única célula), há mais de 500 milhões de anos.

Na verdade, essa cooperação é sustentada por comportamentos complementares e altruístas, em particular pela apoptose ou suicídio celular (pelo qual uma célula ativa sua autodestruição ao receber um determinado sinal) e pela renúncia à reprodução direta por parte de toda célula que não seja uma célula sexual.

Ou seja, a evolução para entidades multicelulares estáveis ​​foi produzida pela seleção de adaptações que, por um lado, facilitavam o funcionamento coletivo e, por outro, reprimiam os reflexos unicelulares ancestrais.

O câncer representa uma ruptura dessa cooperação multicelular, seguida pela aquisição de adaptações que permitem que essas células "rebeldes" se aperfeiçoem em seu próprio modo de vida.

Em outras palavras, as células malignas começam a "trapacear".

Podem fazer isso por terem sofrido mutações genéticas (modificações na sequência dos genes) ou epigenéticas (modificações que alteram a expressão dos genes e que, além de transmissíveis, são reversíveis, ao contrário das mutações genéticas), ou ainda ambas, o que confere a elas um valor seletivo mais alto em comparação com as células de c

Da mesma forma, é imperativo que as células que carregam essas modificações se situem em um microambiente favorável à sua proliferação.

Se essas "rebeliões celulares" não são suprimidas adequadamente pelos sistemas de defesa do corpo (como o sistema imunológico), a abundância de células cancerosas pode aumentar localmente.

A consequência é que os recursos se esgotam e essas células podem iniciar então comportamentos individuais ou coletivos de dispersão e colonização em direção a novos órgãos, as conhecidas metástases, responsáveis, lamentavelmente, ​​pela maioria das mortes por câncer.

Dessa forma, em poucos meses ou anos, uma única célula cancerosa pode gerar um "ecossistema" complexo e estruturado, o tumor sólido (comparável a um órgão funcional), assim como metástases mais ou menos disseminadas pelo organismo.

Um aspecto intrigante dessa doença consiste no número significativo de semelhanças entre os atributos das células cancerosas provenientes de diferentes órgãos, indivíduos e até espécies, o que sugere que os processos que acontecem em cada caso são semelhantes.

Porém, cada câncer evolui como uma nova entidade, já que, tirando os cânceres transmissíveis mencionados anteriormente, os tumores sempre desaparecem junto com seus hospedeiros, sem transmitir suas inovações genéticas nem fenotípicas.

A teoria do atavismo explica o câncer como um retorno às capacidades anteriores das células, entre as quais se encontra a liberação de um mecanismo de sobrevivência excelentemente preservado, sempre presente em todas as células eucarióticas e, portanto, em todos os organismos multicelulares.



Fonte do texto: https://www.bbc.com/portuguese/geral-56688632

Fonte da Imagem: Google.


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